Páginas

domingo, 30 de março de 2008

Quem tem medo de Wilson Simonal?




Ao assistir ao filme "Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei", dirigido por Cláudio Manoel (sim, ele mesmo, o Seu Creysson do Casseta & Planeta!), Micael Langer e Calvito Leal”, pare para pensar: o que pode levar um país como nosso, mestiço, misturado, com uma das maiores populações negras do mundo, a tentar (e às vezes conseguir!) aniquilar as carreiras de seus artistas negros mais talentosos? Muitos foram vítimas de preconceito racial disfarçado de preconceito social (afinal, não dá no mesmo? Preconceito é preconceito. Ou um é menos ignóbil que o outro?): Elza Soares sofreu nas mãos de vários maestros e da torcida racista do Botafogo (corrigindo: de alguns torcedores e de parte da imprensa, na época!); o maestro Erlon Chaves foi censurado por suas apresentações no comandando da Banda Veneno (“Eu quero mocotó”) e, antecipando o que a Blitz faria muito tempo depois, ao ficar dançando e rebolando com duas cantoras louras e boazudas. Erlon repetiu muitas vezes nos interrogatórios que era bicha e o que os milicos consideravam violentíssimo atentado ao pudor nada mais era do que sua performance de palco; Elizeth Cardoso, Tim Maia, Bino (baixista da banda Cidade Negra) e tantos outros. Até mesmo Pelé, com toda a sua importância ainda é vítima de “preconceito intelectual”.

Não seria diferente com Wilson Simonal de Castro, um showman que fez um espetacular sucesso no Brasil dos anos 60 e incomodou com sua figura (um negro sorridente com 1,85m de ginga), seu som (preconceituosamente apelidado de “pilantragem” pelos críticos musicais da época), seu estilo de vida (carros importados e conversíveis na garagem, muita bebida e mulheres) e sua aclamação popular. Claro, um Brasil como o nosso, “ariano por natureza”, não poderia tolerar que um filho de empregada doméstica chegasse aonde chegou: comandar um show no Maracanãzinho com um coral de mais de 30 mil pessoas, ser o garoto-propaganda dos combustíveis Shell com um contrato milionário. E, principalmente, ser um ídolo popular. Os diretores do filme conseguiram, através de atualíssimas e coloridas vinhetas e animações, dar o caráter pop da época, resgatando fotos, jornais, capas de discos e imagens (Simonal canta The Shadow of Your Smile num dueto com Sarah Vaughan, completamente seduzida por ele), além de colherem emocionantes depoimentos de Chico Anysio, Pelé (outro negro tão famoso quanto o próprio Simona), os cartunistas Jaguar e Ziraldo (ambos eram diretores do Pasquim, jornal que ajudou a disseminar o boato de que Simonal era dedo-duro do Dops e que neste documentário (e cada um a seu modo) fazem um misto de mea-culpa e justificativas por terem tomado tais atitudes) e muitos outros. Curiosamente, Simonal foi derrubado pelo políticamente correto Pasquim e resgatado por um incorreto “casseta”.

Vítima de uma disfunção hepática crônica – degeneração das funções do fígado – decorrente do alcoolismo - Simonal morreu em 2000, aos 62 anos, sem ver sua importância artística reconhecida e tentando provar que fora vítima de uma cilada, ao ser acusado de ser informante da ditadura nos anos 70 e de ter mandado a polícia seqüestrar e torturar seu contador por desconfiar que este estivesse lhe roubando. O cantor viu seu sucesso definhar e viveu mais de duas décadas no ostracismo. Ao final do filme, enxugue as lágrimas e - se você for negro - pense sobre o país em que vivemos e se existe mesmo racismo ou - como dizem alguns "não-negros" –isso é apenas paranóia da sua cabeça.

23 comentários:

Anônimo disse...

Estou louca para assistir esse documentário!
Rezando para cair no circuito nacional, assim posso assistir com Binho!
Bom domingo para você!

Unknown disse...

Legal, Rolo, gostei de suas apreciações. Minha única pergunta é, afinal, ele era cagüete ou não? Porque, se era mereceu, caso contrário realmente foi vítima de preconceito.

Rollo disse...

Flavio, se o realmente o Simonal tivesse sido X-9 da Ditadura, alguma "vítima de suas delações" já teria aparecido. Ou mesmo um parente. Ou então algum torturador arrependido. E no entanto em 30 anos ainda não apareceu ninguém. Donde se conclui que...

Anônimo disse...

Obrigado.
Ainda existe muito odio na cabeça de algumas pessoas. E infelizmente a componente racial
é sempre considerado uma bobagem. Afinal no Brasil não tem preconceito né?

Anônimo disse...

Parabéns, Rolo. É difícil conter a emoção com palavras tão sinceras. Claro, a verdade sobre Simonal demorou demais a aparecer, mas finalmente está aí, escancarada para quem quiser ver, acabaram-se as desculpas. Infelizmente, perdemos muito com tudo isso porque só agora os jovens começam a descobrir Wilson Simonal. É preciso dizer, repetir e jamais esquecer que, à custa do calvário de Simonal e do sofrimento da família, a nossa cultura ficou mais pobre. Tudo poderia ser diferente não fosse a mídia canalha que enaltece e destrói a bel-prazer, e, pior, emudece quando lhe convém. Não, não vou entrar no mérito, não hoje. Hoje é um dia feliz, um dia de alegria, e por mais que digam o contrário, tenho certeza, o brasileiro sabe distinguir o certo do errado. Ou, ao menos, está aprendendo. A prova está aí.

Anônimo disse...

Não há qualquer verdade em tudo o que foi dito contra Wilson Simonal ao longo de quase quatro décadas, o suposto envolvimento com a repressão já está mais do que esclarecido. Simonal foi desmoralizado porque a mídia promoveu uma campanha sórdida contra ele e a classe artística tratou de engolir rapidinho todas as mentiras. O próprio Jaguar (um dos mentores da campanha promovida pelo Pasquim contra Simonal) já admitiu que "talvez tenha cometido um engano", mas que está muito velho para rever posições: "Foi um impulso meu, ele era tido como dedo-duro".

O depoimento dos policiais não passou de mentiras para livrar a cara deles mesmos, que, envolvidos na questão do contador, precisavam justificar porque utilizaram as dependências do DOPS. O inspetor Mário Borges, em sua defesa, mentiu em juízo ao dizer que "interrogou" Rafael Viviane porque Simonal era um informante, e que, por isso, acreditou que o preso era um terrorista perigoso. Entretanto, o superior dele, o inspetor Vasconcelos, DESMENTIU o testemunho, mas, este depoimento, apesar de constar no processo (3450), ESTRANHAMENTE não ganhou as páginas dos jornais. Simonal cansou de repetir isso, mas, alguém lhe deu ouvidos?

O próprio Boni admitiu, com todas as letras, que se Wilson Simonal fosse realmente um colaborador da ditadura, ele teria sido, naquela época, a ÚNICA atração que teria total aval para ir ao ar na Rede Globo. Elementar...

Simonal incomodava muita gente porque se negava a dizer amém à sociedade racista da época. O preconceito racial era explícito, normal e corriqueiro, o estranho era alguém agir diferente. O Brasil sempre foi um país hipócrita, não nos iludamos, nada mudou, a diferença daqueles tempos para os dias atuais é que agora, além de ser crime, o racismo também é "politicamente incorreto", o que não o elimina, apenas camufla. Como disse Florestan Fernandes, "o brasileiro tem preconceito de não ter preconceito".

Dá para imaginar o estardalhaço que fazia um negão boa pinta desfilando de nariz empinado, todo cheio de si, a bordo de carrões e derretendo o coração das "lourinhas de família" – era um sacrilégio, a sociedade não engolia. Muitos dizem que Simonal cavou a própria cova porque era arrogante e metido. E daí, qual é o problema, é crime? A meu ver ele não destoava em nada de tantos outros artistas a não ser por uma enorme diferença: cometeu o pecado de nascer negro. Se fosse branco, certamente não faria diferença. Estava mais do que certo, tinha de se armar contra os que não admitiam que um negro nascido numa favela chegasse lá. E, além do mais, ele podia ser empinado, metido, e o que mais quisesse, afinal, não é qualquer um que consegue ser O MAIOR CANTOR de um país tão grande. Ele incomodou sim, arrebatou multidões e alardeou seu talento aos quatro cantos… imperdoável.

Não estou dizendo que Simonal era santo. Ele cometeu um gravíssimo erro ao envolver-se na questão com o contador, mas, foi processado, condenado e cumpriu a pena – pagou a dívida com a sociedade. Porém, as coisas não foram tão simples: ele deu a munição necessária para os que queriam vê-lo pelas costas: a mídia e a classe artística. Era tudo o que queriam, um motivo, um deslize, uma pisada em falso, pois não suportavam ver um negro num posto tão alto. Tornou-se um perigo tanto para a esquerda quanto para a direita porque dominava as massas - contra fatos não há argumentos.

Não é difícil compreender toda esta história, basta o brasileiro ter real interesse em pesquisar e saber o que houve. Já passou da hora de reconhecermos que Wilson Simonal é um patrimônio cultural nosso, devemos isso a nós mesmos.

Rollo disse...

Meire, o mais irônico disso tudo é que o jornal alternativo que defendia a liberdade condenou Wilson Simonal. E trinta anos depois, a imprensa politicamente incorreta, faz a redenção. Estão aí Jaguar e Ziraldo que, mesmo tendo condenado o "dedo-duro" e ajudado a acabar com sua carreira, ainda levam uma indenização por terem "combatido" a ditadura. E o mais curioso é que até hoje não apareceu nenhuma vítima ou familiar de vítima que tenha sido "entregue" pelo cantor. E nesse caso, a indenização seria uma fábula, afinal seria uma vítima do "crioulo alcaguete". Simonal incomodou e vai incomodar sempre. Tenho a impressão de que os responsáveis pela destruição da carreira e da vida do artista não dormem tranquilos, nem com travesseiro de pena de ganso.

Anônimo disse...

Pois é, Rolo, eu gostaria muito de saber como é que fica a indenização para a família de Wilson Simonal... necas. Felizmente, os meninos herdaram o talento do pai e estão se saindo muito bem sozinhos, não precisam de esmola. Este país não é sério, nunca será. Aqui as coisas funcionam assim, dois pesos e duas medidas.
Abraços.

Heloisa Ribeiro disse...

Tb estou ansiosa pra ver o filme, parabéns pela ótima resenha e sua análise sobre o racismo velado no Brasil é mto convincente.

um abraço!

Heloisa

Rollo disse...

Sim, Helô! Assisti duas vezes ao filme (na estréia do Tudo é Verdade e no Festival do Rio) e chorei nas duas apresentações. Agora se faz necessário reparações cinematográficas a Elza Soares (que foi atacada pela torcida do Fogão e pela imprensa) e ao maestro Erlon Chaves.

mochileirodosol disse...

Deixando a cor da pele do simonal de lado,Ele era um dedo duro e mandou os milicos torturarem seu contador.Esse negócio de dizer que ele sofreu porque era negro é conversa fiada.Pois Geraldo vandré(negou a letra do para não dizer que falei das flores)era branco.Cabo Anselmo era branco,etc.Mas não só os traidores devem ser "isolados"mas também os omissos, como Pelé e Roberto Carlos.
Unica diferença é que o Rei Roberto Carlos nunca abriu sua boca para dizer que os Brasileiros não sabem votar e falar mal do Lula.Ele fica na dele, já o Pelé fala pelos cotovelos e em 1970 foi omisso na Ditadura.

Anônimo disse...

Só queria fazer um protesto: chamar a torcida do Fogão de "racista" é também uma discriminação, pois se generaliza um grupo de pessoas tão heterogêneo como o que reúne amantes de um mesmo clube.

Sou negro com muito orgulho, e com igual orgulho sou botafoguense, o clube que junta o preto e o branco com beleza sem igual.

Racista tem em toda torcida de futebol.

alexei disse...

Eu assisti ao documentário e acho que, de uma certa forma, ele trata os representantes do Pasquim com um temor reverencial imerecido no caso. O tal de jaguar inclusive já se declarou publicamente orgulhoso por destruir a carreira de Simonal. E ainda aparece no filme se justificando daquela forma velada? Não, ele e todos os seus colegas de pasquim, inclusive o querido ziraldo, deveriam ter mais dignidade e assumir o que fizeram com todas as letras. Além de se desculpar perante a família de Simonal e a sociedade, já que poderiam ter feito isso com qualquer um.
Seria bom eles experimentarem não mais serem convidados a aparecer na mídia, os meninos maluquinhos sumirem das lojas, pobreza e miséria.

alexei disse...

Eu assisti ao documentário e acho que, de uma certa forma, ele trata os representantes do Pasquim com um temor reverencial imerecido no caso. O tal de jaguar inclusive já se declarou publicamente orgulhoso por destruir a carreira de Simonal. E ainda aparece no filme se justificando daquela forma velada? Não, ele e todos os seus colegas de pasquim, inclusive o querido ziraldo, deveriam ter mais dignidade e assumir o que fizeram com todas as letras. Além de se desculpar perante a família de Simonal e a sociedade, já que poderiam ter feito isso com qualquer um.
Seria bom eles experimentarem não mais serem convidados a aparecer na mídia, os meninos maluquinhos sumirem das lojas, pobreza e miséria.

Unknown disse...

Só cuidado ao generalizar. Não existe torcida racista. Existem torcedores racistas. O Botafogo tem torcedores negros, brancos, amarelos e torcedor racista pode ser tanto vascaino, como flamenguista, corintiano...aliás, o Botafogo se notabiliza até de seguir suas convicções, como na epoca em que era recheado de dirigentes comunistas e por conta disso, colocaram um ex chefe do DOPS para presidi-lo, sem ELEIÇÃO....FOI INTERVENÇÃO MESMO.

ENTÃO LIMPE ESSA SUA BOCA SUJA PARA FALAR DA TORCIDA E DO CLUBE DO BOTAFOGO.

Anônimo disse...

WILSON SIMONAL FOI MAIS UMA VÍTIMA COMO TANTAS DA REDE GLOBO. É UMA PENA !

Unknown disse...

Anos depois os paladinos da democracia, jaguar e ziraldo, recebem bolsa ditadura de 4000 por mes fora a indenização de 1 milhao de reais. Quem é o canalha da estória.

Espectro disse...

simonal era um marginal, disfarçado de artista. mandou sequestrar e torturar seu contador só pq suspeitava q este o roubava nas contas.
quem o acusou de dedo duro, não foi seus inimigos. e sim sseu amigo do dops q sequestrou e torturou o contador.

cantava igualdade, mas andava de mercedes, enquanto mts mendigos da raça negra nem mereciam seu olhar.

mereceu td q aconteceu. não é pq é negro q vou absolver ele e inventar complô.

Lyz Beltrame disse...

lemranso que, Pilantragem, foi o nome que o proprio Simona deu, a um estilo criado por ele e um amigo. O estilo se chamarai Bossa Brasileira, mas o proprio Simonal preferiu o termo pilantragem.
ficadica

Katia disse...

Assisti ontem ao especial do Simonal em um canal fechado. Foi otimo, pois comecei a relembrar de coisas que vi em minha casa na época. Meu pai tinha vários discos do Simonal, eu lembro do bonequinho e de outras coisas, mas pensando bem eu não lembro e vê-lo cantando na midia, o que é muito desperdício. Tenho certeza que através dos filhos manteremos contato com a história deste cantor especialíssimo., maravilhoso e estonteante, Wilson Simonal.

Anônimo disse...

Espectro
marginal pq? pq mandou bater em um cara roubava o seu dinheiro?
que igualdade ele cantava? nunca se meteu em assuntos politicos, ele queria era divertir o povo, mercedes, mulheres e dinheiro foram fruto do trabalho e talento dele, um negro pobre que cresceu na vida, isso não é pecado

grande simonal, o maior show man que esse país ja teve

Rangel disse...

Simonal foi um grande cara!! Mostrou a música negra por excelência ao mundo com um swing brasileiro!! Me apontem outro... talvez Jorge Benjor ou Tim Maia!!! O cara era foda mesmo!!! Esqueçam esse troço de ditadura, até porque nada foi comprovado contra ele!!

Llivramento disse...

Já ouvi de negros que racismo não existe.
Acham que negro só serve para carregar peso