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quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Um modelo a ser seguido



Os meios de comunicação divulgaram nesta semana, com maior ou menor destaque, o lançamento da TV da Gente. Empreendimento bancado por Netinho de Paula (ex-integrante do grupo Negritude Júnior) e investidores angolanos. Netinho, nas entrevistas deixa claro que a idéia é a de uma TV dirigida por negros, feita por profissionais negros para toda a sociedade brasileira.

Logicamente já começam a surgir gritas tais como racismo às avessas e que é um absurdo uma TV de negro, afinal isso só reforça o preconceito. O que me lembra um dizer de Abdias do Nascimento quando lançaram a revista Raça. Ele dizia estranhar o comportamento das pessoas visto que ninguém se incomodava em chegar a uma banca de jornal e ver centenas de revistas sem negros na capa. Mas uma só que fosse voltada para este público já provocava reações raivosas. O mesmo veremos acontecer agora com relação à TV da Gente.

Particularmente eu não conheço o Netinho de Paula. O respeito como artista e como empreendedor e o vejo como um sujeito bem intencionado. Sua atitude me remete a uma figura negra americana a quem muito admiro que é o Quincy Jones.

Showman, compositor de trilhas sonoras, arranjador, regente, instrumentista, ator, produtor de discos, editor de revistas, produtor de televisão, executivo de gravadora e ativista social, Quincy Jones é o exemplo mais bem acabado de onde podem chegar o talento somado a uma dose de visão empresarial e um bocado de sentimento empreendedor. Podendo ficar apenas restrito ao campo da música - onde já reinava como um de seus ícones - Quincy Jones, ou "Q", para seus amigos, enveredou em outros campos e neles fez o mesmo estrondoso sucesso. Sem dúvida deve-se a ele o fato de se ver hoje em dia tantos seriados, filmes e clipes com negros e negras como realmente são: pessoas normais, ricas e pobres, inteligentes ou não. Não importa, mas foge do estereótipo. Estereótipo este que Netinho diz que quer fazer com que sua TV da Gente também não reproduza.

Espero estar vendo surgir um Quincy Jones brasileiro que não entre no jogo mesquinho das políticas rasteiras nem deixe-se usar por interesses outros que não sejam o de buscar colocar a cultura negra brasileira num patamar mais elevado. Espero que o investimento seja um sucesso e, sabedor que tenho amigas, amigos e conhecidos já envolvidos com o projeto, tenho certeza que será, sim, exitoso. Portanto, nos resta agora esperar o dia 20 de novembro para ver o lançamento da TV, de preferência com uma senhora cobertura da Marcha Zumbi +10 que será realizada no dia 16 de novembro em Brasília.

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