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segunda-feira, 6 de junho de 2005

E não é que o Lula chorou?

Quando pensamos que já vimos de tudo e que a coisa chegou a um patamar inaceitável eis que somos surpreendidos mais uma vez com a forma surreal com que a política vem sendo tratada em nosso país.

Sem ainda saber claramente o por quê dos motivos vejo-me surpreendido pelo deputado federal do PTB/RJ, Roberto Jefferson, afirmando para quem queira ouvir que o tesoureiro do PT pagava um "mensalão" de 30 dinheiros (30 mil reais) aos parlamentares da base aliada.



Roberto Jefferson afirma que o fato, quando sabido por Dirceu, não se alterou apesar de ter havido do poderoso ministro uma certa exasperação com a existência da mesada. O mais intrigante, no entanto, é que o deputado afirma que Lula quando soube da "maracutaia" caiu em prantos.

Interessante! Um tempo atrás eu mesmo chamava a atenção aqui neste blog que fazia tempos que o Lula não chorava. Quando recém-eleito nós já esperávamos o momento nos discursos em que as tradicionais choradas do presidente viriam à público. Depois, infelizmente, à medida em que os choros foram tornando-se mais escassos mais o presidente passou a parecer com todos os outros políticos profissionais que conhecemos.

Mas agora, a esperança! Jefferson diz que o presidente chorou ao saber que bem abaixo de suas bem cuidadas barbas grisalhas um esquema cretino e digno dos piores momentos colloridos da história do país estava se dando.

Provavelmente Lula chorou pela impotência. Impotência de perceber que mesmo sendo presidente da república; que mesmo tendo sido eleito com a maior votação da história; que mesmo tendo construído uma rica história de superação da miséria e dos infortúnios da vida ele nada mais é que um homem comum, num espaço privilegiado, cercado de gente que se deixa corromper ao primeiro convite. Lula está descobrindo que não é um super homem.

Por outro lado Lula pode ter chorado de raiva. Pode ter se perguntado que se não fosse presidente poderia encher o Delúbio de bolachas; poderia, quem sabe, pedir a expulsão imediata do tesoureiro do PT; poderia mandar as favas o Roberto Jefferson.

Mas no fundo, no fundo, acho que Lula chorou por perceber que está indo embora uma coisa chamada oportunidade. O velho Brizola (de quem os petistas todos os dias devem dar graças por não estar mais vivo) dizia que cavalo encilhado não passa duas vezes na cerca. É a expressão gauchesca para dizer que oportunidade sem tem muito poucas na vida. O Lula teve a melhor de todas e deixou escapulir pelas mãos.

Recém eleito, poderia ter proposto uma agenda positiva, poderia ter mobilizado o país inteiro, poderia ter forçado a mão e ter mudado a forma de fazer política no Brasil. Mas não, preferiu deixar que as forças políticas que há 500 anos se moldam ao sabor das circunstâncias se achegassem, achegassem e pronto: tomaram conta do governo.

Acho que o Lula chora com a história do mensalão porque no fundo, no fundo, ele sabe que ao invés do "modo petista de governar" o que o país está vendo é o ocaso de um partido que se fez a partir da luta pela ética na política e pela possibilidade de construir formas distintas de relações entre as instituições.

O que talvez o Lula não saiba é que nós, que estamos no mesmo campo do PT e que estivemos ombro-a-ombro lutando por sua eleição em quatro pleitos diferentes, choramos cotidianamente nossa desilusão. Choramos o tempo todo o fato de percebermos que o governo que elegemos acabou um dia depois da posse e que novamente os vencedores foram os de sempre. Choramos porque, infelizmente, como se diz no jargão popular, vencemos mas não levamos. Quem leva são sempre os outros: inclusive aqueles dos trinta dinheiros.

Uma pena, Lula, realmente uma pena!

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