Marcio Alexandre M. Gualberto
É Diretor Executivo da Multiplike – Tecnologia | Informação | Comunicação. Coordenador Geral do Coletivo de Entidades Negras. Colunista de Afropress. Autor do “Mapa da Intolerância Religiosa – Violação ao Direito de Culto no Brasil
A morte por inanição dos movimentos sociais
Por: Marcio Alexandre M. Gualberto - 15/7/2011
Quando Lula foi eleito em 2002 sua chegada ao poder foi saudada em todo o mundo, afinal, pela primeira vez, um presidente oriundo das camadas mais baixas da população assumia o comando de um dos maiores países do planeta. Acreditava-se, naquele momento, que um novo tempo surgiria e que o país passaria por imensas transformações.
Dois mandatos de Lula depois, e meio semestre após a eleição de Dilma Roussef (como sucessora de Lula), vemos se confirmar a maioria das previsões feitas naquele momento.
Hoje, o Brasil é um país que ocupa lugar destacado no grande cenário das nações; tem uma economia pujante; vem resistindo às sucessivas crises econômicas mundiais e as políticas públicas aplicadas pelo Governo na última década, se não eliminaram, pelo menos reduziram drásticamente a miséria em que vivia grande parte da população.
Sem dúvida, a eleição de Lula e, posteriormente, a de Dilma se deu num contexto em que o Brasil, gradativamente foi se tornando um país bipartidário tendo, de um lado, o PT, com um longo histórico de esquerda e proximidade com os movimentos sociais e, do outro, o PSDB representando a elite da direita intelectualizada, mas mesmo assim draconiana, ávida em manter seus privilégios.
Entre os dois, pequenos partidos que nada mais são do que base de apoio, de um ou de outro, mas, sem conseguir se construir como alternativa política a nenhuma dessas duas mega legendas.
Neste cenário o país mudou radicalmente e com essas mudanças o que se viu foi um enfraquecimento constante dos movimentos sociais. Determinados setores entenderam que a eleição de Lula fechava um ciclo e, portanto, todas as ações e investimentos feitos nos movimentos sociais nas décadas anteriores deveriam se encerrar, pois o Brasil entrava num novo contexto.
Nesse grupo incluem-se principalmente as agências de cooperação que entenderam que investir no Leste da Europa, na África e na Ásia seria agora sua missão, uma vez que o “problema Brasil” já estava resolvido.
Outros setores optaram por aderir ao novo Governo, compreendendo que sua eleição e, portanto, sua agenda, devia-se à força dos movimentos sociais e que agora era a hora de surfar a onda da execução daquelas idéias que tanto foram discutidas para quando a “esquerda” assumisse o poder.
Assim, dirigentes foram para a esfera pública e se tornaram gestores deixando, assim, as instituições acéfalas ou fragilizadas, pois se a compreensão era que o Governo executaria a agenda, qual seria, portanto a razão de ser dessas instituições?
Por fim, ficaram aqueles grupos que perceberam que mesmo com a ascensão da esquerda ao poder, pouca coisa mudaria estruturalmente no meandro político brasileiro cabendo, portanto, uma longa e penosa caminhada em prol daqueles mais pobres e excluídos da população brasileira. Os que fizeram essa escolha, hoje pagam o preço caríssimo de sua quase morte institucional.
Com a míngua dos recursos internacionais, a maioria das instituições migrou sua fonte de recursos para os órgãos públicos. Dessa forma, ministérios e empresas públicas, passaram a ser eles, os principais financiadores das organizações do movimento social, com um grande diferencial para as agencias de financiamento internacional: agora, teriam que rezar pela cartilha do Governo. Quem não está de acordo, está fora!
O que vemos hoje, em meados de 2011, é que organizações tradicionais, de todo o amplo espectro que compõe o movimento social brasileiro, fecharam suas portas, ou estão em vias de fazê-lo, pois os recursos não chegam mais e, quando chegam, vêm ainda com a fina ironia que podem financiar atividades mas não podem pagar pessoal, ou seja, além de tudo as pessoas precisam trabalhar de graça, pois os abnegados que nunca deixaram de receber seus recursos, criaram a idéia do voluntariado para que a classe média bem nutrida possa expiar suas culpas.
No caso específico do Movimento Negro, a situação beira um cenário kafkiano. O MN conseguiu, a longas e duras penas, pautar a agenda política do país e colocar a discussão étnico-racial na roda. Mesmo assim, o que se vê é que não existem recursos para quase nada que não seja evento, festa ou blá-blá-blá repetitivo. As organizações que lidam com temáticas estruturais estão à míngua, morrendo cada dia mais um pouco de uma forma que nem a ditadura militar ousou pensar ou fazer.
A intelectualidade de esquerda vê o movimento social como um empecilho. Mesmo que tenha ela – a intelectualidade de esquerda – bebido nessa fonte a vida inteira. Agora mesmo, têm sido recorrentes as queixas sobre a forma com a atual gestão da Seppir vem tratando os representantes do movimento social dentro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, basicamente, como estorvo.
A histórica fala de Matilde Ribeiro numa reunião com comunicadores negros em 2003, quando ela disse que apresentaria ao ministro Gushiken (à época o responsável pela comunicação institucional do Governo) um projeto de – pasmem!!!! – R$ 40 mil reais divididos para dez instituições, para “mostrar que as organizações negras sabem fazer comunicação”, se tornou a prática permanente deste Governo, ou seja: nada se dá, quando se dá algo, é muito pouco, o que motivou minha resposta, à época, à Ministra Matilde de que não éramos “pombos para disputar migalhas entre nós”.
Infelizmente, o que se vê hoje é a migalha como prática e, muitos aceitando, pois sem elas, a alternativa restante é fechar as portas e morrer frustrado em ver décadas de vida dedicada à militância se esvair em anos e meses, pois, literalmente “a fonte secou”.
Ao matar os movimento sociais por inanição o Governo de esquerda do PT, tal como sempre fez a direita, vive apenas o momento político, sem compreender a história como permanente e muito além de si.
Chegará o momento em que o PT será apeado do poder. É natural, é cíclico, faz parte do processo político e esse dia, quando chegar, fará com que os que hoje estão na esfera pública procurem novamente os movimento sociais e não os encontrarão.
Quando muito acharão os chapas-brancas, mas esses já estarão tão acostumados às benesses do poder público que provavelmente lhes virarão as costas.
Hoje, o Brasil é um país que ocupa lugar destacado no grande cenário das nações; tem uma economia pujante; vem resistindo às sucessivas crises econômicas mundiais e as políticas públicas aplicadas pelo Governo na última década, se não eliminaram, pelo menos reduziram drásticamente a miséria em que vivia grande parte da população.
Sem dúvida, a eleição de Lula e, posteriormente, a de Dilma se deu num contexto em que o Brasil, gradativamente foi se tornando um país bipartidário tendo, de um lado, o PT, com um longo histórico de esquerda e proximidade com os movimentos sociais e, do outro, o PSDB representando a elite da direita intelectualizada, mas mesmo assim draconiana, ávida em manter seus privilégios.
Entre os dois, pequenos partidos que nada mais são do que base de apoio, de um ou de outro, mas, sem conseguir se construir como alternativa política a nenhuma dessas duas mega legendas.
Neste cenário o país mudou radicalmente e com essas mudanças o que se viu foi um enfraquecimento constante dos movimentos sociais. Determinados setores entenderam que a eleição de Lula fechava um ciclo e, portanto, todas as ações e investimentos feitos nos movimentos sociais nas décadas anteriores deveriam se encerrar, pois o Brasil entrava num novo contexto.
Nesse grupo incluem-se principalmente as agências de cooperação que entenderam que investir no Leste da Europa, na África e na Ásia seria agora sua missão, uma vez que o “problema Brasil” já estava resolvido.
Outros setores optaram por aderir ao novo Governo, compreendendo que sua eleição e, portanto, sua agenda, devia-se à força dos movimentos sociais e que agora era a hora de surfar a onda da execução daquelas idéias que tanto foram discutidas para quando a “esquerda” assumisse o poder.
Assim, dirigentes foram para a esfera pública e se tornaram gestores deixando, assim, as instituições acéfalas ou fragilizadas, pois se a compreensão era que o Governo executaria a agenda, qual seria, portanto a razão de ser dessas instituições?
Por fim, ficaram aqueles grupos que perceberam que mesmo com a ascensão da esquerda ao poder, pouca coisa mudaria estruturalmente no meandro político brasileiro cabendo, portanto, uma longa e penosa caminhada em prol daqueles mais pobres e excluídos da população brasileira. Os que fizeram essa escolha, hoje pagam o preço caríssimo de sua quase morte institucional.
Com a míngua dos recursos internacionais, a maioria das instituições migrou sua fonte de recursos para os órgãos públicos. Dessa forma, ministérios e empresas públicas, passaram a ser eles, os principais financiadores das organizações do movimento social, com um grande diferencial para as agencias de financiamento internacional: agora, teriam que rezar pela cartilha do Governo. Quem não está de acordo, está fora!
O que vemos hoje, em meados de 2011, é que organizações tradicionais, de todo o amplo espectro que compõe o movimento social brasileiro, fecharam suas portas, ou estão em vias de fazê-lo, pois os recursos não chegam mais e, quando chegam, vêm ainda com a fina ironia que podem financiar atividades mas não podem pagar pessoal, ou seja, além de tudo as pessoas precisam trabalhar de graça, pois os abnegados que nunca deixaram de receber seus recursos, criaram a idéia do voluntariado para que a classe média bem nutrida possa expiar suas culpas.
No caso específico do Movimento Negro, a situação beira um cenário kafkiano. O MN conseguiu, a longas e duras penas, pautar a agenda política do país e colocar a discussão étnico-racial na roda. Mesmo assim, o que se vê é que não existem recursos para quase nada que não seja evento, festa ou blá-blá-blá repetitivo. As organizações que lidam com temáticas estruturais estão à míngua, morrendo cada dia mais um pouco de uma forma que nem a ditadura militar ousou pensar ou fazer.
A intelectualidade de esquerda vê o movimento social como um empecilho. Mesmo que tenha ela – a intelectualidade de esquerda – bebido nessa fonte a vida inteira. Agora mesmo, têm sido recorrentes as queixas sobre a forma com a atual gestão da Seppir vem tratando os representantes do movimento social dentro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, basicamente, como estorvo.
A histórica fala de Matilde Ribeiro numa reunião com comunicadores negros em 2003, quando ela disse que apresentaria ao ministro Gushiken (à época o responsável pela comunicação institucional do Governo) um projeto de – pasmem!!!! – R$ 40 mil reais divididos para dez instituições, para “mostrar que as organizações negras sabem fazer comunicação”, se tornou a prática permanente deste Governo, ou seja: nada se dá, quando se dá algo, é muito pouco, o que motivou minha resposta, à época, à Ministra Matilde de que não éramos “pombos para disputar migalhas entre nós”.
Infelizmente, o que se vê hoje é a migalha como prática e, muitos aceitando, pois sem elas, a alternativa restante é fechar as portas e morrer frustrado em ver décadas de vida dedicada à militância se esvair em anos e meses, pois, literalmente “a fonte secou”.
Ao matar os movimento sociais por inanição o Governo de esquerda do PT, tal como sempre fez a direita, vive apenas o momento político, sem compreender a história como permanente e muito além de si.
Chegará o momento em que o PT será apeado do poder. É natural, é cíclico, faz parte do processo político e esse dia, quando chegar, fará com que os que hoje estão na esfera pública procurem novamente os movimento sociais e não os encontrarão.
Quando muito acharão os chapas-brancas, mas esses já estarão tão acostumados às benesses do poder público que provavelmente lhes virarão as costas.
3 comentários:
Márcio, o teu argumento é coerente mas tem coelho nessa cartola - não na tua mas na de outros. Não sei de nenhuma ong que fechou - talvez eu esteja mal informado. Mas o movimento social não se mantém só por ongs e nem todas as ongs q surgiram foram expressões dos movimentos sociais. Acho que tem uma tropa que avaliou mal certos desdobramentos da política frutos até de seu esforço. Tem um outro lado nessa história.
Gobery agradece por tudo. Afinal, ter usado todo o aparato da ditadura para ajudar o lulismo e destruir o brizolismo, foi uma coisa tão genial que até neto de Brizola acha que se tivsse feito pior, ainda seria pouco.
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