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quinta-feira, 8 de maio de 2008

O tal do cabelo ruim... por Rolo

“Acho que fez bem em ir à televisão, embora devesse ter raspado a cabeça. Aquele cabelo bombril parecendo tingido me fez entender o que ele disse uma vez causando polêmica – que tinha 'cabelo ruim'.”

O segundo parágrafo do artigo publicado em O Globo de ontem (quarta-feira 07/05/2008) sob o título “A falha de Ronaldo” mostra bem o que o jornalista Zuenir Ventura pensa a respeito dos cabelos dos negros. Incomodou o fato de Ronaldo estar com seu blackpower à mostra. Imagine: o ídolo que é pego em um deslize, aparece na televisão para dar entrevista pedindo desculpas. Mas mesmo assim não se humilha por completo, não raspa a cabeça, se livrando daquilo que, ao inverso de Sansão no embate contra os filisteus, só lhe trouxe fraqueza, feiúra, o tal “cabelo ruim”. Para Zuenir, faltou a contrição absoluta: Ronaldo coberto de cinzas, tal e qual os hebreus antes de Cristo.

Mas afinal, quem tem cabelo ruim? O jogador de futebol ou o jornalista? “Cabelo ruim” é aquele que cai da cabeça! O mais estranho é que um sujeito como Zuenir Ventura, que viveu os anos 60 tão intensamente, ainda faça a “patrulha capilar”. Só os brancos podem ter o cabelo que quiserem, do jeito que quiserem, os negros tem que usar o cabelo bem curtinho, rente ao couro cabeludo ou então raspado, para mostrarem que são limpos, asseados, que não possuem aquele "negócio na cabeça que parece sujo", enfim, que estão arrependidos de seus atos.

Então, o negro, o neguinho, o negão, o pardo, o mulato, o moreninho, o jambo, o café-com-leite, o sarará, o nego-aço, o saroba, o baio, o buiú, o pelezinho, o obina, o crioulo, o preto, o “ah, mas você não é negro, é moreninho...”, esses se não tiverem o famoso cabelo liso, ou devem fazer alisamento japonês, a escova progressiva, a chapinha, o relaxante ou então devem passar a “maquina zero”, pra não incomodar a visão da “classe-média-branco-intelectualizada-que-lutou-contra-a-ditadura”?

Depois da Cidade Partida vem aí o "Cabelo Repartido". Do mesmo autor...

17 comentários:

Lucio Branco disse...

Rolo, qd rolava c/mais freqüência aquelas discussões sobre cotas nas universidades, o Zuenir Ventura uma vez escreveu um artigo exaltando a história da luta racial norte-americana p/ depois, no último parágrafo, concluir q. não existe racismo no Brasil... Ou seja, isso é problema q. aconteceu e acontece lá... Aqui, nunca... Não me surpreende uma manifestação como essa da parte dele...
Valeu!
Abs.
Lucio.

Marcio Alexandre M. Gualberto disse...

Rolo, meu brother, orgulho meu tê-lo como colaborador deste humilde Palavra Sinistra. Eu li o texto do Zuenir e fiquei puto nas calças. Ia escrever, mas o tempo não permitiu. Vendo teu texto, irreparável, pensei: "caceta, o Rolo sou eu, ou eu tô virando o Rolo!" Porque você escreveu na linha que eu queria ter escrito.

Parabéns pra você e parabéns para o Palavra em poder contar contigo. Abração de sempre.

Ricardo Reis disse...

Oportuna cacetada em cima do "ato falho" do Zuenir. Texto irretocável,duca mesmo! Só me resta reproduzi-lo. Parabéns!

Unknown disse...

Será que alguém pode postar aí o link para o artigo original do Zuenir Ventura, por favor, nao consigo achar o maldito!

Ricardo disse...

Por via das dúvidas vou clicar no anúncio sobre queda de cabelos em cima da postagem.

Aquela disse...

Nossa, que vexame, heim? Putz, eu não esperava essa do Zuenir, viu... Obrigada por sublinhar o erro dele, se ele se sente confortável pra fazer "patrulha capilar" (adorei o termo) vamos cobrá-lo também.

Unknown disse...

Certa vez um excelente jornalista que entrevistei disse que Zuenir era um filho da puta. Achei estranho e considereiJulguei que era alguma espécie de recalque ou de rancor mal resolvido. Agora entendi o que ele quis dizer.

Anônimo disse...

Sem dulvida uma exelente resposta.
Aproveitarei pera pegar o meu Gumex e dá uma alizada nas minhas pimnetas do reino.
Sir Dema

Anônimo disse...

Lutaram muito, arduamente, resistiram o quanto foi possível, mas os hormônios foram impiedosos: cabelos, fora!

Foram desabrigados, desalojados, ficaram sem rumo e no final, taxados: cabelo ruim!

Os carecas, indignados com essa recente e avassaladora onda preconceituosa, em defesa de seus saudosos cabelos e contra a difamação dos que ainda restam, discordam em gênero e número do rótulo a eles transferidos e sinalizam e gritam aos quatro cantos que cabelo ruim é o cabelo traficante.
Traficante de piolho, atuante no tráfico infantil de lêndia; seboso e sujo, fedido e grudento.

Em memória dos que se foram
Pela dignidade dos que ainda resistem

Roni, um calvo

Anônimo disse...

Paulo, meu amigo, já vi que você, por desVENTURA bem-aventurada, não sabe conjugar este verbo arcaico e absoleto no preterito perfeito: eu zueni, tu zuenaste, ele zuenou, nós zuenamos, vós zuenastes, eles zueniram... toda a perspectiva de oxinagenação no cérebro do referido verbo em extição. Daí a queda de cabelos, silênciosa, em sinistra concomitância com a queda estrepitosa de neurônios. Mas não dê bola, não passa de um traquinho de breve duração acompanhado de mau cheiro, um pouco mais durável, mas nem por isso capaz de infestar por muito tempo os ares do presente que conjugamos e do futuro que haveremos de conjugar, sempre, em verbos não tão defec(a)tivos como este!
Abração,
Zamagna

Anônimo disse...

O encomodo acontece, guando entendem que assumir determinada estética implica também em assumir a identidade e orgulhar-se.

Unknown disse...

Que loucura esse tal de Zuenir, hein? Com o espaço que tem na mídia, resolveu botar pra fora todos os seus preconceitos, os raciais, os sociais e tudo o mais: assisti a entrevista dele no Roda Viva na TV Brasil e fiquei chocada!!!
Boa, Rolo! Quem quer seja você, foi atento, vigilante e eficiente!

Anônimo disse...

não é exagero seu, meu caro?

Anônimo disse...

Márcio, eu não li essa do Zuenir, mas não me surpreende, pois já percebi uma corrente no país desse bando de "intelectuais" dando declarações, se posicionando contra as cotas e entre outras bizarrices dizendo que no Brasil não há racismo. Eu diagnostico essa nova doença no Brasil ser exatamente mais prova de racismo, porque as pessoas racistas, como consideram o racismo normal, elas não o vêem, é invisível, entende?

Anônimo disse...

Salve. Agradeço a quem encontrou o link da matéria e puder socializar. Estamos concluindo nosso projeto de monografia, Representação do negro na mensagem publicitária, como tese de conclusão de curso e o assunto cai como uma luva nos argumentos que estamos levantando.

Oubigrato pela atenção.

Oubí Inaê Kibuko
São Paulo, Cidade Tiradentes para o mundo...

Mari disse...

Impressionante como pessoas consideradas intelectuais que estudaram em boas universidades podem se mostrar tão ignorantes em determinados aspectos, a ponto de não aceitar as diferenças etnicas.

Démerson Dias disse...

Zuenir pisa na bola, mas esse texto é gol de placa.