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quarta-feira, 2 de abril de 2008

Documentario puro: Sumidouro e O Aborto dos Outros


Cris Azzi e Carla Gallo são cineastas da nova geração. Com olhares atentos e preocupações sociais, os diretores de Sumidouro e O Aborto dos Outros, respectivamente, trazem à tona dois temas que ocupam a imprensa escrita, falada e televisada (ave, Odorico!) do país: a construção de barragens que desalojam moradores de comunidades ribeirinhas e as questões legais do aborto.

Em Sumidouro, Cris acompanha durante alguns anos, o processo de deslocamento de 5 mil moradores no Vale do Jequitinhonha (MG), para a construção do lago de 200 metros de profundidade que vai alimentar a Usina Hidrelétrica de Irapé. Deixando para trás casas, cemitérios, histórias familiares e o rio – sua referência e fonte de subsistência, os moradores vão para novas cidades, reconstruídas na chapada, onde as casas são iguais e têm na campainha uma das grandes novidades. Com sua câmera discreta, Cris estabelece uma relação de confiança com os moradores e consegue transformar o tempo real em tempo ontológico, deixando que as pessoas, a natureza e tudo o mais sejam o focos de movimentação e não a câmera, algo raro na linguagem cinematográfica atual.

Carla Gallo aborda vários casos de mulheres em vias de realizar abortos por diferentes razões: estupro, má-formação fetal grave ou o desejo de simplesmente interromper a gravidez. As mulheres em geral são pobres, o que as faz entrarem em conflito com suas convicções religiosas ou terem problemas com a Justiça. A diretora consegue realizar um comovente acompanhamento de vários casos, sem usar imagens apelativas ou cruas, mesmo mostrando boa parte das cenas em hospitais. Um detalhe interessante é a linguagem usada por Gallo, ora tornando o filme arrastado - o que de certa forma tira do foco da questão do aborto – ora tornando o filme atraente – o que acontece quando ela registra um dos depoimentos enquadrando apenas o olho da paciente em um grande close-up (Buñuel puro!).

Um comentário:

cris azzi disse...

satisfação ler suas palavras rolo.

abraço!