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quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Protagonismo Juvenil e Cultura Urbana – a força arrebatadora da juventude brasileira

Marcio Alexandre M. Gualberto[1]

Findo processo eleitoral de 2006, em que debates de idéias e projetos para o país foram deixados de lado para que se desse vazão a um falso embate sobre ética e moralidade públicas, o fato concreto é que temas caros ao país, ao seu desenvolvimento e ao seu futuro nem mesmo entraram nas pautas programáticas de determinados candidatos. Um dos mais candentes destes temas, sem dúvida é a questão da juventude brasileira e seu protagonismo hoje no cenário político do país.

Questões como políticas de cotas e ações afirmativas, comunicação, mercado de trabalho, quilombos, violência urbana, saúde, educação, cultura entre tantos outros perpassarão, necessariamente, pela temática juvenil já que são os jovens os principais atores envolvidos nestes e outros debates.

Ignorar, portanto, a existência deste público como ator relevante não é só um erro político grave, como demonstra o quanto as instituições brasileiras precisam ainda se abrir para novos temas e novos públicos. Há que se notar, entretanto, que esta juventude não está paralisada, pelo contrário. Hoje o protagonismo juvenil é uma realidade e os jovens começam a tomar a condução de determinados processos com toda a energia que os caracterizam.

Prova disso tem sido demonstrada com a pujança da cultura urbana que a cada dia se fortalece mais graças à força-motriz desta juventude. São elementos tais como o hip-hop, o funk, o samba (com as novas gerações chegando e assumindo seus lugares nas rodas), com o skate, o basquete de rua, a moda, a linguagem (ela também corporal) entre outras ações que estão aí e não precisam ser pontuadas.

Fato é que falar hoje em cultura urbana é falar em juventude e mais ainda, é falar em juventude negra suburbana, periférica, pobre e, por tudo isso, extremamente criativa, guerreira e ciente de que há um mundo a ser conquistado. São jovens que ora estão nas universidades - via cotas, via Prouni, ou não; que estão na música, na produção, nos esportes e em tantos outros lugares dizendo: “Estamos aqui e queremos nosso espaço!” De modo semelhante são estes jovens que estão de uma forma ou outra dizendo aos mais velhos que há outras formas de operar a política que é hora de “passar o bastão”.

É fundamental, portanto, para a sobrevivência política dos movimentos sociais como um todo e do Movimento Negro em particular, olhar com calma para estes gestos e compreender as mensagens que estão sendo enviadas. Ignorar a presença ou mesmo fechar espaço para os jovens poderá num futuro próximo, não só limitar o surgimento de novas lideranças como, também, envelhecer os próprios movimentos.

Entender que a sabedoria dos mais velhos é mola condutora dos grupamentos humanos é obrigação dos mais jovens, mas cabe também aos mais velhos compreender que os processos de renovação é que propiciam a manutenção dos grupamentos. Que venham as novas lideranças, os novos olhares, nas novas formas de agir e, principalmente, a energia e força necessária para o momento de embate que a cada dia se aproxima.



[1] Jornalista, editor do Portal DuBIG e dos blogs Atentos à Mídia e Palavra Sinistra, colunista de Afropress e Crônicas Cariocas.

3 comentários:

Ler o Mundo História disse...

Alexandre, boas colocações e possivelmente ela possa nos dar pistas para atuar contra esta dura realidade aqui:

16/11/2006 - 15h58
Brasil é 3º país com mais assassinatos de jovens no mundo

BRASÍLIA (Reuters) - A Colômbia, a Venezuela e o Brasil, nessa ordem, são os países que têm as mais altas taxas de assassinatos de jovens no mundo, mostrou um estudo divulgado na quinta-feira.

O "Mapa da Violência 2006 -- Os jovens do Brasil", apresentado em Brasília pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), analisou e comparou a estrutura da mortalidade dos jovens do país e fez recomendações para ações públicas e privadas para combater as mortes de jovens.

"Entre 84 países do mundo, com sua taxa de 27 homicídios em geral para cada 100 mil habitantes, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking, atrás da Colômbia e com taxas quase iguais às de Rússia e Venezuela", afirmou o relatório da OEI.

"Entre os jovens a situação é mais grave. A taxa de 51,7 homicídios para cada 100 mil jovens, registrada em 2004, coloca o Brasil na terceira posição, depois de Colômbia e Venezuela", disse o levantamento.

Esse índice é de 30 a 40 vezes maior que as taxas de mortes juvenis de países como Inglaterra, França, Alemanha, Áustria e Egito.

O estudo, elaborado com base em dados oficiais, mostrou que a taxa de homicídios de jovens brasileiros entre 1994 e 2004 cresceu a um ritmo maior que o número de assassinatos entre a população total.

Em 2004, o Brasil contava com uma população jovem (entre 15 e 24 anos) de 36 milhões de pessoas, um pouco mais que 20 por cento do total de habitantes.

"Mais de 20 por cento da população jovem não estuda nem trabalha. Isso significa rua, bares, álcool, droga, transgressão de normas. Existe um jeito jovem de viver, mas também um jeito jovem de morrer", disse na apresentação do trabalho seu coordenador, Julio Jacobo Waiselfisz.

Segundo o levantamento da OEI com dados de 2004, os Estados mais violentos para os jovens brasileiros são Pernambuco, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A grande maioria dos jovens assassinados é de homens -- 93 por cento -- e negros.

O estudo constatou também que as mortes de jovens, seja por homicídios, acidentes de trânsito ou suicídios, aumentam consideravelmente nos fins de semana. Por isso, Waiselfisz recomendou a adoção de mais medidas públicas preventivas nesse período. (Por Guido Nejamkis)

Ler o Mundo História disse...

bacana Alê, vou ficar de olho.
beijos

Ler o Mundo História disse...

Querido Alê, acabei de ler teu belíssimo e contundente texto sobre o jovem negro e o extermínio da juventude negra. Artigo de ponta, devidamente já reproduzido no meu blog e espalhado aos quatro cantos.
Um abraço comovido
Frô