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sexta-feira, 16 de junho de 2006

As Estrelas da Aracruz Celulose - Quando se juntam burrice, má fé e desinformação


A Aracruz Celulose é uma das empresas que mais sofre denúncias em todo o país. Recentemente, durante o 4º Encontro de Cúpula de Chefes de Estado da União Européia, América Latina e Caribe, esta empresa, de maior parte de capital norueguês, parte nacional e um tanto do Bndes, foi apresentada como ré no Tribunal das Transnacionais. "...O julgamento aconteceu no âmbito do Tribunal Permanente dos Povos e analisou a atuação de várias empresas européias nos países caribenhos e latino-americanos sob a ótica de seu impacto social, ambiental e cultural", segundo matéria de Maurício Thuswohl, da Agência de Notícias Carta Maior.

Estas informações estão na Carta Maior. Podem ser encontradas com uma simples busca na Internet. Mas mesmo assim, causa espécie ver, na abertura da Copa do Mundo uma peça publicitária em que a empresa diz que "O Brasil está fazendo bonito pelo mundo inteiro". De um cinismo atroz!!

Como se não bastasse a peça é estrelada pelas seguintes pessoas: o cantor Seu Jorge, o técnico da Seleção Brasileira de Vôlei, Bernardinho, a ginasta Daiane dos Santos, o pugilista Popó, o
bicampeão olímpico e octa mundial na classe Laser, Robert Scheidt, o inacreditável astronauta Marcos Pontes (o mesmo que depois de pegar uma carona de 10 milhões de dólares na nave espacial russa, pediu para entrar para reserva nem bem pousou em terra, pagando assim todo o investimento do país feito em sua preparação e em sua viagem) e, para finalizar com chave de ouro, o equívoco em pessoa, sua excelência Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Estas pessoas prestam-se ao belo de papel de, manipulando uma bola de futebol, reforçar o discurso da Aracruz Celulose de que ela é uma das grandes empresas brasileiras e que sua atuação no campo social e ambiental é exemplar. Pura falácia!! Se os atletas, astronautas, músicos e quetais envolvidos nesta propaganda tivessem se dado o mínimo de trabalho de saber para quem estão trabalhando talvez não gostassem de vincular suas imagens à uma empresa que é acusada (com provas) de invadir terras indígenas e de quilombolas, assorear rios, perpetrar os mais absurdos crimes ambientais no Estado do Espírito Santo, de envolver-se na política local subornando políticos para que estes estejam de acordo com seus interesses, de manipular a seu bel prazer a mídia local com sua imensa capacidade de recursos para anúncios nestes veículos, além de outras questões que podem ser encontradas sem muito esforço com uma busca na internet que pode ser feita por atletas, astronautas, músicos e quetais.

Mas a questão que se apresenta é se, de fato, há desinformação aí ou apenas falta de interesse. Afinal, receber alguns milhares de reais e engordar a conta bancária é sempre mais importante que envolver-se em problemas de pequenas comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas etc. Pode ser má fé, pode ser burrice, pode, realmente, ser desinformação, mas o fato é que estas pessoas têm responsabilidade direta sobre sua imagem e sobre o que projetam e deveriam buscar ter um pouco mais de zêlo por elas e por quem influenciam.

O Milton Nascimento já dizia que o artista deve ir aonde o povo está. No entanto, de um tempo para cá isso virou anátema. Poucos são os artistas, celebridades, astronautas ou seja lá o que for, que têm, de fato, interesse em se comprometer com causas sociais que sejam, de fato, representativas para o debate das grandes questões nacionais. Quando se tocam em questões pontuais tipo Criança Esperança ou outros debates emocionais do tipo aí é até bom aparecer emocionado pedindo uns milhõezinhos a mais para ajudar os pretinhos da favela a não virarem delinquentes (o caminho natural destes, na concepção das Bias Lessas, Reginas Casés, Afrorreggaes, Rubem Césares e outros aí da vida). Agora quando é pra tocar nas questões estruturais aí a coisa pega.

A propaganda em questão traz três negros: Seu Jorge, Daiane dos Santos e Pelé. Bom, o Pelé já disse que não é negro, negro é o Edson. Mas como ninguém conhece o Edson pouco se sabe sobre sua militância política no que tange à questão racial. Quanto à gaúcha Daiane e ao ex-morador de rua Seu Jorge, é difícil imaginar que em algum momento da vida estes não tenham se confrontado com a questão da côr da pele à sua frente. No entanto, nunca se viu uma linha destas figuras sobre a questão racial no Brasil, sem dúvida um dos grandes temas da atualidade. Parafraseando o velho Brizola, há negros que os brancos adoram. Principalmente aqueles que ficam de plantão para reforçar a noção de que não existe racismo no Brasil e a democracia racial é uma realidade.

Só um alerta a estes atletas, astronautas e músicos, que gostam de vender suas imagens sem saber a quem estão vendendo: quando estourou o escândalo da empresa Boi Gordo, o Antônio Fagundes teve a dignidade de vir a público dizer que havia cometido sério equívoco ao não saber realmente a quem estava vinculando sua imagem, já que à época ele se tornou a grande cara pública desta empresa. Acho que é fundamental daqui por diante que estas pessoas saibam exatamente com que tipo de empresa estão se envolvendo. Afinal, levá-las aos órgãos internacionais como cúmplices dos crimes que a Aracruz vem cometendo no Brasil pode, afinal, não ser má idéia.

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